Hoje vamos trazer algumas informações sobre o Dia Mundial da Água. Consideraremos o tema de 2022, outros significados e aspectos simbólicos e espirituais e ambientais.
22 de março é o Dia Mundial da Água. A data é celebrada desde 1993 por resolução da Organização das Nações Unidas (ONU). De acordo com o Portal World Water Day da Unesco, anualmente o Programa Mundial de Avaliação da Água divulga relatório dedicado ao manejo sustentável das fontes de água limpa para apoiar processos decisórios. Em 2022, o tema é “Águas Subterrâneas: tornando o invisível visível” e ganha relevância em um contexto de mudanças climáticas, desafios relacionados à alimentação e água limpa1. Rodrigo Lilla Manzione no livro Águas subterrâneas2, explica que o termo é referente à água armazenada no subsolo e que é essencial para manter a umidade do solo, lagos, além de fluir para os rios.
Além das águas subterrâneas há outras questões relacionadas que merecem ser lembradas. Ela está presente nos continentes, nos oceanos, nos estuários das áreas costeiras, nas nuvens, na chuva, na neve, nas geleiras e dá origem ao arco-íris. A origem da vida, também é um dos eventos relacionados à água; é dela que a maior parte da superfície do planeta é coberta; é ela que constitui boa parte de nossos corpos, está presente em nossos tecidos corporais, em nossas veias e outros órgãos. Em uma das passagens mais lindas de “O mar que nos cerca” a ambientalista Rachel Carson escreve:
Ao abandonarem a água, os animais que assumiram a vida terrestre levaram consigo um pouco do mar, um legado que passaram para seus descendentes e que até hoje liga cada animal na terra à sua origem no antigo oceano. Peixes, anfíbios, aves e mamíferos com sangue quente – cada um de nós transporta nas veias um fluido salgado, no qual os elementos sódio, potássio e cálcio estão em proporções quase iguais às da água do mar. Essa é a nossa herança desde o dia, muitos milhões de anos atrás, em que um ancestral remoto, tendo progredido do estágio unicelular para o pluricelular, desenvolveu pela primeira vez um sistema circulatório no qual o fluido era simplesmente a água do mar. […] Como a vida começou no mar, assim cada um de nós inicia sua vida individualmente num oceano em miniatura, dentro do ventre materno; nos estágios do nosso desenvolvimento embriológico reproduzimos pelos quais a nossa linhagem evolui, desde os habitantes do mundo aquático dotado de guelras até as criaturas capazes de viver na terra3.
Além de estar associada à vida, está relacionada à fertilidade da Terra e a formação dos primeiros núcleos sociais. Está presente em rituais e possui significados espirituais e sagrados em várias religiões e culturas. Para muitos povos africanos “Deus” significa “aquele que faz chover” ou “aquele que traz água”. Na Índia rios são sagrados; para povos da floresta amazônica Deus é o “espírito das águas”4. Na concepção dos povos andinos originários a água “provém de Wirakocha, fecunda a Pachamama (Mãe Terra) e permite a reprodução da vida. É, portanto, um ser sagrado que está presente nos lagos, nas lagoas, no mar, nos rios e em todas as fontes de água”5. O primeiro parágrafo do primeiro livro do antigo testamento (um dos pilares da cosmovisão judaico-cristã) narra: “No princípio, Deus criou os céus e a terra. A terra estava informe e vazia; as trevas cobriam o abismo e o espírito de Deus pairava sobre as águas.”6 Todas estas passagens revelam que a água ocupa um espaço central no espaço simbólico de nossas culturas que deve ser recuperado para que nossas atividades sociais, familiares, educacionais, econômicas e produtivas reverenciem e situem a água não como recurso da natureza a ser explorado, mas com bem sagrado que é fonte de vida, e como tal, deve ser preservado.
1. UNESCO. World Water Day. Disponível em https://en.unesco.org/commemorations/waterday. Acesso: 20 mar. 2022.
2. MANZIONE, Rodrigo Lilla. Águas Subterrâneas: Conceitos e Aplicações sob uma Visão Multidisciplinar. Jundiaí ; Paco Editorial. 2015.
3. CARSON, Rachel. O mar que nos cerca. São Paulo: Editora Gaia. 2013. P. 471.
4. AZEVEDO soares de souza, y. MACHADO josé de oliveira. Os descaminhos das águas: do sagrado ao mercado. In: Boletim Goiano de Geografia, Goiânia, v. 38, n. 3, p. 551–568, 2018. DOI: 10.5216/bgg.v383.56351. Disponível em: https://www.revistas.ufg.br/bgg/article/view/56351. Acesso em: 20 mar. 2022. PP. 553-554.
5. DE PAULA JUNIOR. “Nós Somos Água”: Cosmovisões e Perspectivas Políticas sobre a Água a Partir do Diálogo com Atores Institucionais e da Sociedade Civil. Dissertação de Mestrado em Pós- Graduação em Direitos Humanos e Cidadania : Universidade de Brasília. Disponível em: https://repositorio.unb.br/bitstream/10482/41080/3/2021_FranklindePaulaJunior.pdf. Acesso em: 20 mar. 2022. P. 199
6. CASTRO, João José Pedreira. Bíblia Sagrada. Editora Ave Maria. 1985. P. 49.
Marli Teresinha Everling
• Professora dos cursos de graduação e pós-graduação em Design da Universidade da Região de Joinville/Univille.
• Coordenadora do Projeto Ethos – Design e relações de uso em contexto de crise ecológica.
• Colaboradora do Instituto Caranguejo de Educação Ambiental.